sexta-feira, 6 de março de 2015

Um gomo de tangerina no meio do chão




    Enquanto caminho até à faculdade vou encontrando várias coisas no chão. Papéis, lixo, ossos - sim, ossos - e no outro dia encontrei um gomo de tangerina. Passo na escola primária todos os dias. Os miúdos saltam, gritam, brincam, cantam, choram, fazem queixinhas e cuidam da horta da escola. Reparei nas laranjeiras e nas tangerineiras, estavam carregadinhas, como diz a minha mãe. Os miúdos não comem laranjas? Não dão laranjas aos miúdos na cantina? Não fazem sumo? Pobres laranjas.
    Fiquei a pensar naquele gomo de tangerina ali sozinho, no chão, ao pé do muro da escola. Secalhar alguma miúda chamada Ana e com laranja no nome, como eu, estava a comer a tangerina, como eu, e não gostou do sabor. Eu nem sempre gosto do sabor, às vezes são amargas. Às vezes temos que mandar os gomos pela janela. Mandá-los ao ar, mandá-los passear. Mesmo que seja no recreio. Mesmo que tenhamos meia dúzia de anos. Há um tempo em que temos que mandar os gomos pela janela. Secalhar a Ana só precisava que lhe dessem sumo de laranja na cantina. Ou torta de laranja. Ou laranja. Na cantina da escola. 

Ana Marisa

Um comentário:

Cláudia S. Reis disse...

Sempre que aqui venho apaixonou-me um pouco mais pela tua escrita. És maravilhosa!