domingo, 2 de novembro de 2014

Laranjas de Domingo



     Teimo comigo mesma que as metades da laranja têm que ser iguais. Que a casca tem que ter a mesma tonalidade, sem rugas, sem relevo nenhum. Crio na minha cabeça a laranja perfeita por fora e por dentro e uso essa imagem comigo mesma. Não há laranjas perfeitas...nem Anas perfeitas. Nem Manéis, nem Zés, nem Ritas. Agarro-me à ideia de ser melhor, de não desiludir, de querer sempre limar as minhas laranjas, de as pôr a brilhar, sem rugas nem relevo. E com um sumo docinho. Dá trabalho, dá lágrimas - assim como quando cortamos cebolas - e dá apertos. Dá vazio. Mas também dá coisas boas e fora do comum. Encher o coração aos outros pode ser gratificante e incrível até certo ponto. Dá-nos um carinho grande fazermos o bem pelo outro, mas também nos pode deixar sem sumo - às vezes as laranjas secam e temos que ir buscar mais à laranjeira. Ainda bem que tenho laranja no nome. 
     Gostava de ter só boas laranjas para dar a comer aos outros; Esforço-me muito para isso, mas nem sempre é possível. Modestia à parte, as minhas laranjas são sempre boas mas às vezes falta quem as descasque, quem as cuide, quem as valorize como deve ser. Assim para elas ficarem maduras e boas p'ra comer. 


Ana Marisa

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